5 de julho de 2012

Pnad reafirma evolução na educação. E também obstáculos

Série histórica de 1992 a 2009 mostra que só Sudeste atinge meta de 8 anos de estudo por habitante. Analfabetismo resiste no Nordeste e a partir de 40 anos

Fonte: Veja.com
Renata Honorato e Nathalia Goulart
A universalização da educação básica continua sendo apenas um desejo do país e uma meta de governo. A série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE) que reúne dados coletados entre 1992 e 2009, divulgada nesta quinta-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), reafirma a tendência de evolução na escolaridade média dos brasileiros. Contudo, no período, apenas a região Sudeste atingiu a meta constitucional de oito anos de estudo para cada cidadão com 15 anos ou mais de idade - confira o gráfico a seguir. A média nacional encerrou 2009 em 7,5 anos.
 
Para Célio Cunha, consultor da Organização das Nações Unidas Para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), a melhora apontada pela série histórica de fato não deve trazer ilusões. “Há dez anos, a média nacional era bem inferior, 6,1 anos, o que comprova que estamos evoluindo. Contudo, o avanço ainda é insuficiente se comparado aos padrões internacionais, que sugerem 10 ou 12 anos de estudo. É preciso acelerar esse processo”, diz o especialista.
Um obstáculo especialmente difícil de vencer tem sido o analfabetismo. Apesar de ser decrescente em todo o período analisado, ele vem se mostrando resistente, especialmente entre os brasileiros com mais de 40 anos - confira o gráfico a seguir. Em 2009, segundo a Pnad, 14 milhões de brasileiros não sabiam ler ou escrever.
O Nordeste é outro foco de resistência do analfabetismo. Ali, cerca de 18,7% da população de 15 anos ou mais de idade não sabe ler ou escrever um simples bilhete. No Sudeste, a taxa é de 5,5% da população.

“É natural vermos uma concentração do analfabetismo entre adultos acima de 40 anos, que já possuem uma vida estabilizada e perdem gradativamente o interesse pela educação", explica Célio Cunha. "O importante, a partir desses dados, é perceber que o país precisa melhorar seus instrumentos e pedagogias para alfabetizar os adultos mais jovens, na faixa etária dos 20 ou 30 anos.”
Outro dado da Pnad confirma que, embora caminhe para a universalização do ensino fundamental, o país está longe de oferecê-lo a grandes fatias da população. Encerrada a fase escolar inicial, por volta dos 14 anos, a frequência escolar cai sensivelmente na faixa entre 15 e 17 anos - confira no gráfico a seguir.
"Para reverter os altos índices de evasão escolar, e como consequência aumentar a frequência escolar nessa faixa etária, é preciso reformular a escola brasileira, tornando-a mais atraente", pontua Mozart Neves Ramos, conselheiro do movimento Todos Pela Educação. "Os jovens abandonam os estudos porque se sentem desmotivados. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas comprova: 40% dos alunos que abandonam a escola o fazem por desmotivação. É preciso criar condições para incentivar a permanência na escola, aumentando assim, as chances do jovem ingressar na universidade".
A partir dos 18 anos, a situação é ainda mais grave: cerca de 30% dos jovens progridem nos estudos, quadro que se agrava a partir dos 25 anos. “Vivemos hoje uma inclusão escolar inédita no país. Se o número de jovens na universidade não é o desejado, esse é um processo em curso. Por outro lado, vemos que quase a totalidade das crianças estão no ensino fundamental e que o ensino médio tem recebido cada vez mais alunos. A tendência é que esses estudantes cheguem ao ensino superior”, diz Célio Cunha.

Qualidade - O que os especialistas concordam, no entanto, é que a progressão dos níveis educacionais brasileiros deve ser acompanhada de um aumento na qualidade do ensino. "Hoje, vemos que a dificuldade que muitos jovens encontram para ingressar no mercado de trabalho não se deve apenas à oferta escassa de vagas, mas também a dificuldades no processo de seleção: o aluno da escola pública, que forma a esmagadora maioria dos estudantes brasileiros, não está preparado para a disputa", diz Mozart Neves.
Célio Cunha concorda: "A universalização do ensino deve ser rigorosamente acompanhada de uma melhora na qualidade da escola brasileira. A universalização por si só não garante os níveis educacionais que o país necessita".